sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Aplainar os caminhos, transformar corações

“Convertam-se, o Reino de Deus está próximo” (Mc. 1,15)

A conversão é um tema que muitas vezes soa em nossos ouvidos como algo do passado ou algo próprio dos santos. Isto é um engano muito grande. Da mesma forma que somos convidados à conversão somos também à santidade e esse é um tema a ser meditado, rezado e vivido constantemente.
O Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo pede uma conversão em todos os níves, pois se Deus reinará, não pode haver mais nada constrario à sua vontade, nem no coração humano, nem nas estruturas sociais e religiosos, dentro das quais vive o ser humano.
A conversão deve começar já. Nela os corações se transformarão e Deus se fará presente, pois Deus é amor, e quem ama permanece em Deus (1Jo 4,16). O amor de Deus pelo homem não têm limites e é para todos. A experiência do amor de Deus é algo que podemos sentir todos os dias, pois somos seres de relações, nos nossos encontros e desencontros do dia-a-dia somos convidados a pôr nossos corações na mão de Deus e deixarmos o seu dom maior transformar o centro de nossas vidas.
Quando saímos de nossas casas para irmos ao encontro de nossos irmãos, participamos de um momento místico, pois o Deus da Vida tem um encontro marcado neste mesmo lugar teológico com as pessoas que se encontram. Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, ali estarei.
Para os vicentinos, em especial, este lugar é a casa do pobre, onde devemos promover um diálogo em atitude de confiança mútua, de respeito, pois este local é sagrado, nos leva a partilha da amizade e experimentar dos efeitos das delicadezas do amor.
Tudo estaria perfeito se realmente estivéssemos abertos à ação de Deus. O tempo que estamos vivendo nos ajuda a rever estas relações. Está próximo o fim de mais um ano; numa linguagem financeira, poderíamos dizer que se aproxima o tempo de fazer balanços, ver os resultados positivos e negativos e elaborar novas metas para o futuro.
No tempo litúrgico, passamos pelo advento, e esse nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais dos cristãos, com a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza, a conversão.
Deus é fiel a suas promessas: o Salvador virá, daí a alegre expectativa que deve neste tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera acontecerá com certeza. Portanto, não se está diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. É tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança. (1Tm. 1,1) esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante das perseguições, etc.
O advento que vivenciamos também é tempo propício à conversão. Sem um retorno de todo ser a Cristo não há como viver alegria e a esperança na expectativa da sua vinda. É necessário que “preparemos o caminho do Senhor” nas próprias vidas, “lutando até o sangue” contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na Palavra.
Neste tempo precisamos nos questionar e aprofundar a vivência da pobreza. Não da pobreza econômica, mas principalmente aquela que leva a confiar, a abandonar-se e depender exclusivamente de Deus ( e não dos bens terrenos), que tem n’Ele a única riqueza, a única esperança e que conduz à verdadeira humildade, mansidão e posse do Reino.
Nossa espiritualidade do serviço aos pobres dever nos ajudar nesse processo de conversão permanente, onde nossos corações se abrem para ser morada de Deus. No desenvolver de nosso ministério somos chamados por Deus a praticar o amor. Quando administramos a Sociedade de São Vicente de Paulo estamos cuidando dos bens, dos talentos, do tesouro dos filhos amados de Deus, não podemos pecar em relação a esse grande compromisso, pois nada é nosso a não ser a misericórdia de Deus diante de nossas limitações.
Deus transforma o coração do homem para que cada um, com gestos e palavras, testemunhe e transforme outros corações.
Ozanam afirmava “tão pouco te falta para seres um excelente cristão; falta-te apenas um ato de vontade; crer é querer”. O ato de fé na misericórdia de Deus nos permite abrir nossos corações e querer ser melhor para servir mais e com maior qualidade.
Frederico Ozanam, em mais um de suas sábias frases, nos ensina: “Foi ainda a inspiração que me levou a procurar os pobres em um dia de mau humor e que me fez voltar desta visita cheio de vergonha pelas minhas misérias de imaginação antes a terrível realidade de seus males.” Vemos na experiência desse nobre fundador uma receita para a nossa conversão, ver nos pobres mensageiros da vontade de Deus para a mudança do nosso agir.
Nossos corações têm sede do infinito. Das virtudes que podemos viver a única que não passará é a caridade; portanto, é esta que devemos cultivar, ensinar e praticar. Neste tempo de rever atitudes, nossas obras como vicentinos, precisamos aplainar os caminhos para que possamos ver no horizonte sinais concretos do Reino de Deus.
O que podemos fazer como Sociedade de São Vicente de Paulo?
No coração desta grande obra pulsa o amor; estamos sendo canais desse amor, ou bloqueamos ação da graça de Deus?
Sonhamos com uma Sociedade transformada, onde nossos confrades e consocias estejam prontos para viver novas realidades, onde os pobres deixem de ser “coitadinhos” para serem pessoas construtoras de seus ideais, onde as cestas e alimentos sejam sinal de partilha e não posse de um grupo que tem poder sobre um outro dependente. Que nossa espiritualidade seja partilha com os assistidos. Que nossos grupos sejam sensíveis às necessidades de outros grupos, mesmo quando o caixa não esteja tão bom. Que a liderança seja motivadora de outros lideres e abertas para aceitar o novo e o diferente. Entre tantas ações, ai estão algumas que refletem corações transformados, livres do egoísmo, do individualismo, fechamento, centralização de poder, livres desta “gordura maligna” que bloqueia a ação de Deus em nossas ações vicentinas.
Precisamos rever nosso regime de atitudes para deixar fluir em nosso meio a graça vivificante que faça nossos corações puros e prontos para produzir o Amor de Deus, força para refazer nossas vidas dando condições de nos convertermos e sermos sinais para outras conversões.
Que nosso coração esteja pronto para receber Jesus, aquele que se encarnou no meio dos Pobres, que este Natal seja santo, cheio de amor e partilhar.
Feliz Natal a todos!



Pe. Edson Friedrichsen, CM.

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